Janelas Abertas e Portas Fechadas

Janelas Abertas e Portas Fechadas

“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”, diria o nosso rei literário contemporâneo, Ariano Suassuna. Hoje, vamos com ele das janelas abertas para a paisagem até as portas fechadas para a vida.

O caminho é longo. Mas, vale o passeio.

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O Salvador está em férias

Lá na cidade alta, as mais baixas reputações perambulam sem rumo e nem casa para morar. No Pelourinho, ninguém mais vai para o ‘pau’, porque ele não está mais lá.

Da glória capitalesca de Salvador às ruínas de uma cidade que se afasta dela mesma. O velho centro definhou, enquanto bairros melhores se fizeram com o dinheiro privado. Justo, claro. Mas, injusto é o dinheiro do povo que não chegou em lugar algum. Os prédios só não caem porque a esperança é grande.

Por outro lado, o carnaval está lá para animar os desanimados. O senhor do Bonfim, para amparar os desamparados. E a baiana, para alimentar os esfomeados.

Cadê tu, Salvador? Onde estão os seus sonhos? Em Miami?

Enquanto isso, debaixo do guarda-sol velho, o povo continua sonhando. Mas, e se o sonho também acabar?

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A melhor vista para o mar

No calor infernal das ruas espremidas de Copacabana, algo sempre vem à memória dos que imploram uma brisa dos céus: pelo menos, os que vivem pendurados nos morros, têm a melhor vista do Rio de Janeiro.

Um respeitadíssimo economista norte-americano (Edward Glaeser, para os curiosos) cheio de diplomas que não cabem na parede escreveu que os pobres são felizes na cidade maravilhosa. E sabe por quê? Porque a praia é grátis e o coco está na palmeira. Por isso mesmo, imagino que os pobres em Nova York devem ser infelizes, porque lá só tem o Central Park, comida barata em todo lugar e abrigos melhores que muitos apartamentos da classe média brasileira.

No Rio, a esperança está na vontade das pessoas que se encontram por lá. É admirável a luta pela vida dos que constroem a cidade dia após dia. Nos morros. Nas ruas. E na cidade partida de Zuenir Ventura.

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Aonde entra na Ilha?

Na ilha da magia, o espetáculo fica no acompanhamento do progresso do projeto Rio 2050. Isso mesmo. Florianópolis parece uma filial carioca dos problemas habitacionais e de mobilidade. O processo é contínuo e está aí para todo mundo ver.

A esperança na ilha é de que ninguém more nela, assim ela estará a salvo da ocupação desordenada e da dificuldade de acessar a cidade por duas velhas pontes disfuncionais e por uma que está ali para enfeitar.

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A esperança realista de Suassuna

Sonhamos com vidas melhores. Gostamos das cidades europeias e as queremos aqui. Pelo menos nas condições que lá estão. E falta pouco. Porque os melhores sentimentos já estão aqui.

Mas, vamos ser sinceros: a realidade que assistimos já está aí há muito tempo. Está na hora de melhorar. Não basta sermos esperançosos. Precisamos construir o presente para melhorar o futuro. E parar de consertar o passado.

Os estrangeiros vêm para cá e assistem a precariedade bem arquitetada. E gostam do que veem. Mas, a maior parte deles retorna para seus países bem organizados para nunca mais voltar. Isso, porque não dá pra viver só de amor. Ele é grande demais para se sustentar sobre o nada.

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As cidades vivas

Já provamos ser capazes de construir cidades impossíveis. Agora, vamos construir as possíveis. E as melhores cidades não são comunistas, capitalistas ou blá, blá, blá. As melhores cidades são aquelas que acrescentam valor às nossas vidas. São humanas. E as sentimos na pele, no coração, nas ruas, nos parques, nos edifícios e nas árvores.





About the author

Rafael Leonardo Carlesso
Rafael Leonardo Carlesso

Já caminhei por tantas ruas de tantos lugares. Morei na chuvosa Curitiba. Passei calor no inverno do Rio. E agora escolhi Floripa para viver, pensar e trabalhar. Sou arquiteto por formação, designer por natureza e escrevo por necessidade de expressão. Acredito que tudo feito a partir do design tem mais valor. Dos acessórios do dia a dia, ao banco do avião que levará você para outro lugar.

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