Dúvida

Dúvida

Lucas sentiu uma pontada no estômago quando viu Alice se despedindo do amigo e subindo as escadas do prédio, se escorando na parede.

– Alice, por que esse menino veio te trazer aqui? Olha como você está bêbada! Por que você não em atendeu?

– Não gosto mais de você, Lucas. Estou bêbada o suficiente para te dizer isso. Não estou feliz com essa nossa vida, quero ficar sozinha e acho que estou gostando desse menino que me trouxe aqui, apesar de não ter rolado nada entre nós. Agora, por favor, me deixe dormir.

Lucas não acreditou. Preferiu não ter feito nenhuma pergunta, preferiu ter ido com ela, mesmo com febre. Preferiu que ela nunca tivesse se mudado nem mudado os planos deles. Aquela Alice não era mais do Lucas.

O sábado amanheceu chuvoso e frio. Alice lembrava vagamente do final da noite anterior e Lucas acordou ardendo em febre, com olhos inchados. Ela se sentiu a pior pessoa do mundo, sentiu todo aquele peso voltando para suas costas. Não cogitou que sua atitude foi corajosa e libertadora, ficou remoendo cada segundo que fez Lucas sofrer. Logo ele que era tão legal com ela. Não lembrou de todas as noites que foi dormir sofrendo pela indecisão e pela certeza de que não gostava mais dele. Naquela manhã cinzenta, ela só queria voltar a ser a Alice que cuida de todo mundo.

Passaram horas conversando, Alice conseguiu ser um pouco mais verdadeira e falou das principais coisas que incomodavam em Lucas. Ele prometeu mudar, disse o quanto sofreu e soube se aproveitar da compaixão de Alice.

– Só gostaria que você se afastasse do seu “amigo”.

– Claro, Lucas. Falei aquilo em um momento vulnerável, eu não gosto dele.

Foi uma das únicas mentiras que Alice contou naquele dia. Por mais que ela tentasse, não conseguiu tirar Pedro de sua cabeça, mesmo querendo estar com Lucas.

A segunda-feira chegou e seu chefe deu a notícia de que ela e Pedro iriam passar uma semana “mergulhados” num trabalho muito sério em São Paulo.

Oi? São Paulo? Viajar? Uma semana? Só os dois?

Os dois estavam tentando não se falar ou cruzar olhares até a chegada dessa notícia. Juntaram suas cadeiras para analisarem alguns materiais necessários para esse trabalho e só falaram de trabalho.

Alice não queria chegar em casa, não queria olhar para Lucas e muito menos dar essa notícia, que no fundo ela estava gostando. Mas ela não queria enfrentar.

Não teve para onde fugir, ao chegar em casa e ver um jantar lindo feito por Lucas, já logo falou sem pensar muito. Explicou em poucas palavras que não teve como contestar e que ela não tinha culpa. Lucas vestiu a máscara de compreensivo e parceiro, disse que entendia e que não queria discussão.

Lucas surtou sozinho quando Alice saiu. Ele sabia que ela estava escapando de suas mãos e que nenhuma simulação estava funcionando. Não teve muito o que fazer, só esperar.

Alice chegou no aeroporto e já encontrou Pedro. Tentou ser o mais impessoal possível, mas Pedro fez questão de sentar ao seu lado. Quando se ajeitaram no avião, Pedro não aguentou e quebrou o gelo:

– Alice, a gente precisa conversar. Não dá para fingir que não tem nada rolando.

– Pedro, não tem nada rolando. Sou comprometida e você também. Você esqueceu que vai casar em alguns meses?

– Não, Alice. Não consigo parar de pensar nisso desde que te conheci. Tudo era certo na minha vida até você aparecer. Agora não consigo parar de pensar nessa dúvida que pairou na minha cabeça. Também não consigo parar de pensar em você.

Os dois se beijaram no avião mesmo.

 





About the author

Mariana Amorim Fialho
Mariana Amorim Fialho

Meu nome é Mariana Amorim Fialho, mas pode me chamar Mari. Sou administradora de empresas, mas o que amo mesmo é falar e escrever sobre romances. Sou casada e muito apaixonada, mas tive que seguir uma longa viagem dentro de mim para conseguir me entregar de verdade. Acho que é por isso que esse assunto me encanta tanto.

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