Tudo fluiu naturalmente. Se falavam o dia inteiro no trabalho. Iam embora todos os dias juntos e às vezes davam um beijinho de despedida. Às vezes paravam no barzinho só para tomar um chopinho amistoso. Às vezes se falavam por mensagem só para dar boa noite. E às vezes iam dormir e acordavam um pensando no outro. Às vezes para eles, só na cabeça deles. Sem nem perceberem, estavam sempre juntos e cada vez mais enlaçados.

Mas era laço mesmo, não era nó. Laço é leve, se desfaz rápido e enfeita. Fica ali por que quer. Era uma leveza tão boa que nenhum dos dois percebeu o quanto já estavam envolvidos. Afinal, eles ainda eram João e Maria, nada a ver. Eles só estavam curtindo uma ondinha. “Nada a ver”…

Ficaram assim durante uns meses seguidos. Os programas sempre casavam. Um não tinha nada marcado e o outro tinha uma proposta, acabavam indo juntos. “Só para curtir”.

Até que surgiu um show para Maria e uma festa para João. Maria, sem esperar muita coisa, fez o que vinha fazendo, chamou João. Ele: “Se você quiser ir comigo”… Claro que ela não ia. Era o show tão esperado e tão falado por ela. E é claro que João não ia falar para seus amigos que não ia na festinha que já tinha até ingresso comprado. Foi cada um para um lado.

Maria não curtiu aquele show como os outros. “Estranhamente” estava sentindo falta do João. “Fala sério”!

João curtiu, bebeu, estava com seus amigos, até pegou uma gatinha, mas chegou em casa com um sentimento diferente, queria estar com Maria.

Nenhum dos dois comentou sobre o assunto. E também não se falaram no dia seguinte.

– Amiga, o João nem apareceu hoje. A festa deve ter sido boa ontem, né?! Ahh, mas quer saber? Tomara que ele tenha arrumado uma gatinha. Essa nossa situação pode acabar atrapalhando nossa amizade.

– Maria, você está com ciúmes do João? Amiga, você está gostando do João! Para de se enganar. Manda mensagem para ele!

– Óbvio que não! Tá maluca? Não estou com ciúmes, muito menos gostando dele. Estava sendo legal ficar com ele para passar o tempo. E só. É muito mais fácil ficar com alguém que você já tem intimidade. Só isso. Vamos mudar de assunto?

Ela passou o dia todo fugindo desse assunto, mas não quis sair de casa.

João acordou e quis dormir de novo. Nem respondeu as mensagens dos amigos chamando para beber. A mãe estranhou:

– Filho, está tudo bem?

– Sim, mãe. Só ressaca.

Na cabeça dele, Maria com certeza encontrou seu ex, voltou e por isso não apareceu no domingo. “Beleza, deixa isso para lá”…

Segunda-feira, agiram normalmente. Na cabeça deles.

– E aí, Maria?! Como foi o show?

– O melhor de todos!!! E a festinha?

– Foi show! Fez alguma coisa ontem?

– Sim, fui ao cinema e você?

– Fui beber um chope.

– Legal!

– Beleza!

Foi a segunda mais estranha de todas. Maria tinha certeza absoluta que João estava ontem com a mesma menina da festa e João tinha certeza que Maria voltou com o ex.

Sorte que Maria tinha psicóloga nesse dia. Entendeu que estava fugindo de João e do que estava sentindo por ele. Até quis provar que não era nada disso, mas como já tinha falado, a psicóloga era boa demais. Acabou convencendo Maria a ter certeza mesmo do que era certeza só na cabeça dela.

Maria, então, resolveu quebrar o gelo, mas por mensagem. E direta. Para não desistir!

– Senti sua falta ontem.

– Eu também!

– Vamos embora juntos? A gente pode beber uma água de coco. Bom para ressaca!

– Bora.

Acabaram bebendo uma cervejinha, depois outra, depois outra. E no meio de amenidades e risadas, João perguntou:

– Aí, Maria, tá afim de namorar comigo? Sei lá, mas acho que quero ficar só com você e quero que você fique só comigo.

– Eu também! Estou gostando de você.

– Eu também!

– Então beleza! Estamos namorando.

– Sim, estamos! 🙂

No dia seguinte, João perguntou:

– Você lembra de ontem?

– Sim, João! Estamos namorando, né?!

– Sim, mas sei lá, né?! Vai que foi onda, tava bêbada… Sei lá!

Do jeito deles começaram a namorar, mas ainda estava estranho para eles. Eles ainda eram João e Maria. “Nada a ver”…

Semana que vem eu continuo com “Desencontros do encontro”