A vida boa do Rio de Janeiro, o novo trabalho, o chope depois do trabalho e até mesmo o trânsito encantaram Alice. Mas o que realmente foi o começo de uma nova vida pra ela, foi se libertar de toda responsabilidade que achava que tinha, até mesmo a de ser magra.

No Rio ela era mais uma e era muito charmosa por ter um sotaque diferente. Ela trabalhava tanto que não tinha tempo de resolver os problemas de toda sua família. Cada amigo novo que Alice fazia, cada pedaço da nova cidade, cada ida na praia mesmo num dia nublado fazia com que a Alice se sentisse mais leve e renovada.

Não sobrava tempo pra Lucas. Mas e todos os planos deles de casar, ter filhos, viver pra sempre junto? Lucas queria uma resposta. Alice não tinha essa resposta, nem ela sabia o que acontecia. Ela simplesmente estava diferente, mas ela tinha dificuldade de assumir isso pra ela e pra ele. Vivia dizendo que o amava da mesma maneira, que continuava com os mesmos planos e que a única coisa que mudou na vida deles foram os quilômetros que agora os separavam.

Alice tinha medo de se desprender de tudo e todos que ela conquistava, ela precisava se sentir amada e ela tinha pavor em desagradar qualquer um que fosse. Valia qualquer mentirinha em prol do bem comum.

Lucas não perdeu tempo e arrumou um jeito de se mudar para o Rio também. Se o único problema dos dois era a distância, esse problema não existia mais. Além de esperto, Lucas era muito inteligente e conseguiu um ótimo emprego numa multinacional, mas quando ele chegou na casa nova de Alice logo viu que não tinha espaço pra ele, nem na casa e nem no coração dela.

Ela já era uma nova pessoa, não tinha mais tempo pra ser a mola motora de tudo. Não tinha mais tempo pra fazer o jantar de Lucas, pra ouvir as novas músicas que ele descobriu, pra ficarem em casa vendo um filminho ou pra insistir em uma viagem, que com a enrolação de Lucas nunca acontecia. Alice olhava pra ela agora, tinha os programas dela agora.

Cabia a Lucas acompanhar ou não. Ele, que não era bobo, acompanhava sem reclamar. Sentia cada vez mais que Alice escapava por suas mãos, mas fazia de tudo pra não perder a mulher da vida dele pra algum carioca malandro.

Alice, por sua vez, se sentia cada vez mais sufocada. Saíram com a galera do trabalho algumas vezes e era nítido o quanto Lucas era um patinho feio no meio dessa gente tão descolada. Ele tentava estar sempre por perto, até que um dia teve febre e não pode ir ao chope de sexta.

Alice não chegou na hora que combinaram, não ligou pra avisar e não atendeu mais aos telefonemas de Lucas. A última vez que ela atendeu, já estava bêbada. Lucas não conseguiu dormir, não parava de pensar que o amigo de Alice também não levou a noiva dele. Tentava pensar que não tinha nada a ver, mas não conseguia relaxar. Resolveu esperar Alice na varanda do apartamento.

Algumas horas depois, sai Alice do táxi. O amigo dela estava no táxi também.