Mr Selfridge: a vida e o talento do fundador da Selfridge & Co
A fachada da Selfridge & Co domina uma quadra inteira da Oxford Street, umas das ruas mais movimentadas da capital londrina. Quem viajou a Londres com certeza já entrou para fazer compras ou pelo menos admirou as famosas vitrines de uma das maiores e mais tradicionais lojas de departamento inglesas. Mas a Selfridge’s vai muito além dos imensos salões cheios dos últimos produtos da moda. Com mais de cem anos desde a sua fundação, já acompanhou guerras, revoluções e uma infinidade de novas modas, e é o início dessa trajetória que é abordado pela adorável série Mr Selfridge.
Protagonizada por Jeremy Piven (de Entourage), Mr Selfridge acompanha a vida de Harry Selfridge, um rico empresário norte-americano que se muda para a Inglaterra com um sonho grandioso: fundar uma loja-referência de artigos de luxo. Selfridge consegue fundar sua loja, que rapidamente deslancha nas vendas, mas nada é tão fácil assim. Entre a chegada de sua família à cidade e o dia-a-dia dos negócios, o espectador é convidado a se envolver nas tramas e conflitos não só dos Selfridge como dos funcionários da loja, cujas histórias pessoais são tão interessantes quanto a do protagonista.
Piven, que costuma interpretar tipos controversos, curiosamente parece ter encontrado na série o seu papel ideal. Seu Selfridge é o perfeito bussinessman, sempre com um sorriso estampado no rosto e uma atitude disposta e conciliadora, ainda que, uma vez sozinho, sofra com os problemas da sua vida particular. Mr Selfridge colabora, inquestionavelmente, com a manutenção de uma imagem quase heroica do empresário, que se mostra um marido apaixonado, um pai perfeito e um homem de negócios naturalmente talentoso.
Por mais ‘infalível’ que Selfridge seja como personagem, isso não passa uma sensação de artificialidade ou de falta de profundidade em relação à série – pelo contrário, logo no primeiro episódio fica claro que a atmosfera de Mr Selfridge é leve e dramática na medida, sem recorrer a clichês. Personagens como Agnes Towler (Aisling Loftus) e seu irmão George (Calum Callaghan), que enfrentam dificuldades familiares, mas têm grandes sonhos, e Rose Selfridge (Frances O’Connor), a mulher do fundador, que tem que se adaptar a uma sociedade mais conservadora do que a conhecia nos Estados Unidos, são um bom exemplo disso.
Mr Selfridge também acerta no que se refere ao tratamento dado às temáticas sociais da Inglaterra no início do século XX. Questões como a luta pelos direitos das mulheres, as cicatrizes da guerra e as tensões causadas pela desigualdade social estão sempre presentes e norteiam as tramas da série. As personagens mulheres são fortes, determinadas e à frente do seu tempo, e por pouco não roubam o protagonismo dos homens, muitos ainda com dificuldade de aceitá-las em posições de liderança.
Por mais inevitável que seja a comparação com o mega sucesso Downton Abbey, as semelhanças entre as duas séries param nos excelentes figurino e cenografia. Mr Selfridge não é uma janela para a vida dos abastados; pelo contrário – a série é inovadora justamente por dar peso igual a todas as tramas. O tom dramático da série é perfeitamente balanceado por uma visão otimista e progressista em relação ao futuro, e, no final, o que fica – além da vontade de assistir a série inteira de uma vez só – é a mensagem, repetida pelo próprio protagonista, de que, na vida, o que importa é o trabalho duro.
Mr Selfridge é produzida pelo canal inglês ITV e está disponível no Brasil no Netflix.
Fotos: divulgação/ITV.