O jornalismo e o choro
Poucas vezes chorei ao fazer uma pauta/ entrevista. Na verdade, foram apenas duas vezes. E olha que já cobri de tudo: nascimento, morte, tragédia…
A primeira foi há três anos, numa pauta com o ator Paulo José. Ele não estava bem de saúde e falava com muita dificuldade sobre a peça que tinha começado a dirigir. Depois de muito esforço, ele disse a seguinte frase: “Se eu parar de trabalhar, eu morro”. Não consegui conter as lágrimas.
No final de 2013, chorei novamente. Fui entrevistar os parente das vítimas do acidente do ônibus que caiu numa ribanceira na Régis Bittencourt, vindo de Curitiba. Um homem, desesperado pela falta de notícia sobre a mãe, caiu no choro. Em menos de um minuto, eu estava aos prantos também.
Dizem que jornalista não pode se deixar levar pela emoção. Se isso for regra, eu prefiro abandonar meu canudo e ser somente ser humano. Meu coração doeu como se eu estivesse ali, naquela situação. Fiquei mal pelo sofrimento alheio. Fui embora sem saber que fim havia levado os parentes daquelas pessoas que entrevistei. Horas depois, soube pela televisão que eles perderam seus entes queridos. Chorei, chorei, chorei. E agradeci a Deus por me mostrar que tenho uma coisa rara hoje em dia: compaixão.
E a terceira aconteceu na semana passada, também durante uma entrevista com Paulo José. Falei com ele por ser o grande homenageado do Festival de Cinema de Vitória. E foi lindo novamente. É difícil ver um gênio, uma mente brilhante, um gigante da atuação, num corpo já enfraquecido. Mas Paulo é uma lição de vida. E eu sou uma pessoa de sorte.
Não vou chorar de novo, prometo. Até porque, segundo o próprio Paulo José, “o choro, às vezes, esvazia o discurso”.