Semana Santa
Comemorando a Semana Santa deixamos de lado os grandes lançamentos e voltamos a algumas décadas atrás para comentar e recomendar um grande musical que te enche de dúvidas, conflitos, amor, mas o mais importante e poder ver os últimos dias de Jesus de uma forma mais humana.
COMENTÁRIO
Uma companhia de teatro formada por jovens artistas, vestidos com roupas informais e desenfadados chega em um antigo ônibus a um local remoto do deserto de Israel, onde eles vão representar a vida e paixão do Jesus Cristo, através do canto e a dança, misturando coreograficamente os conceitos da ópera tradicional com os modernos musicais da era do rock.
Os protagonistas do grande drama bíblico estão presentes: Jesus, Judas, Maria Madalena, os Apóstolos, Caifás, Anás e os Fariseus, Herodes e sua corte, Pôncio Pilatos e os romanos, os homens, as mulheres e as crianças do povo judeu, submergidos todos eles em uma montagem tão inovadora como anacrônica, onde se misturam as ruínas antigas e as roupas do século I, com elementos modernos como veículos a motor, andaimes metálicos, armas de fogo ou óculos de sol, e em um palco aberto e localizado muito perto de onde ocorreram os autênticos fatos, quase dos mil anos atrás.
O Conceito de Opera Rock, já tinha sido popularizada pelos sucessos de Hair e Tommy nos finais dos 60. Jesus Cristo Superstar foi composta pelo brilhante músico Andrew Lloyd Webber e pelo letrista Tim Rice. A obra nasceu como álbum musical com a voz de Ian Gillan (vocalista de Deep Purple no papel de Jesus), e mais tarde virou um musical de grande sucesso, estreado em Broadway, no ano 1971. Até o dia de hoje inúmeras versões teatrais foram, são e serão montadas ao redor do mundo todo. Aqui mesmo em São Paulo tivemos uma versão de sucesso no 2014.
Igual que na estreia teatral o filme gerou muitas polêmicas devido à comparação da figura de Jesus com uma superestrela mundana vinculada ao rock. Como sempre tudo se resume a uma interpretação dos ditos e em este caso a intenção foi referir-se ao fenômeno de massas que o Jesus simbolizou e à grandeza do movimento religioso que ele iniciou, tomando o simbolismo da cultura rock como parâmetro de analogia.
A obra oferece os últimos dias na vida de Jesus, através de uma ótica diferente de todas as formas ortodoxas propostas durante séculos. Nela podemos ver um Jesus com reações humanas de pessoa comum e em certa forma irreverente diante da grandeza de Deus e sua difícil vontade, que nos convida a uma forte identificação com ele.
A particular visão do filme está baseada no ponto de vista de Judas, o discípulo traidor, que faz as vezes de consciência críticas ao próprio Cristo, levantando cada um dos supostos desvios respeito dos propósitos iniciais. Este personagem complexo e incômodo, com umas motivações obscuras, é interpretado por um ator negro (outro ponto de grande polêmica na estreia), e disputa o protagonismo com Ted Neeley (Jesus) e Ivonne Elliman (Maria Magdalena), os três com uns registros vocais privilegiados.
Musicalmente a obra é magistral. Todas as músicas são excelentes, destacando a Oberture no início, o próprio final angustiado com John 19:41 enquanto todo o mundo fica pensando no que acaba de assistir. Na minha opinião o momento musical mais alto é sem sombra de dúvidas a Getsemani, com um cristo humano questionando a vontade de seu pai.
Em essência, Jesus Cristo Superstar aportou essa olhada mais humanizada, desenhando um personagem aberto e inclinado às dúvidas e paixões mundanas. Na atualidade o filme continua mantendo plenamente sua vigência, pela identificação dos fatos narrados no Novo Testamento com uma virulenta mensagem antimilitarista e anti-racista, muito em concordância com a filosofia hippie da época, e propondo além de uma revisão das personalidades dos personagens principais, Cristo, Judas e Maria Magdalena, muito humanizadas e afastadas das convenções habituais.