Narcos: o crime e a lei na Colômbia de Escobar
Desde que o Netflix deu início à produção de séries próprias, o já popular serviço de televisão sob demanda só viu aumentar o seu número de admiradores. De séries menores, como a curiosa Lilyhammer, a sucessos esmagadores, como Orange is the New Black e House of Cards, o público se acostumou a esperar apenas o melhor em sua programação. Mas, já estabelecidos esses sucessos, faltava algo que dialogasse diretamente com o público latino-americano, parcela crescente entre os assinantes. Recém-saída do forno e já cultuada, Narcos, série do Netflix dirigida por José Padilha e estrelada por Wagner Moura, veio preencher, com muito sucesso, esse espaço.
Baseada na trajetória do traficante colombiano Pablo Escobar e seus embates com o governo local e agentes americanos, Narcos tinha de tudo para ser só mais uma entre tantas séries sobre o mundo do crime – mas a parceria José Padilha / Wagner Moura, que havia dado tão certo no blockbuster Tropa de Elite, indicava o contrário. Com um roteiro brilhante, um ritmo de narrativa digno de deixar o telespectador no limite da ansiedade, sem excessos ou cenas desnecessariamente longas, Padilha mostra que seu destino é brilhar dentro e fora do Brasil.
Moura também merece muitos elogios – seu Pablo Escobar, frio e assassino, mas amável e carinhoso quando se trata da sua família, dá o tom da série e revela o longo caminho que esse grande ator percorreu. Afinal, não são todos os atores que, tendo se fixado na memória do público como indiscutíveis good guys, conseguem convencer na mesma medida como anti-heróis. Moura convence, e seu grande esforço em encarnar essa personagem – o ator morou em Medellín e estudou espanhol durante 6 meses apenas para trabalhar na produção – fica explícito na sua performance segura e natural de uma figura tão odiada.
O contraponto à corrupção de Escobar é o agente da DEA Steve Murphy, representado pelo talentoso Boyd Holbrook, de Gone Girl e Hatfields & McCoys. O jovem e quase ingênuo agente, habituado a uma vida pacata como policial em Miami, não tinha ideia de onde estava se metendo quando desembarcou na Colômbia – e vê-lo crescer, como policial e como personagem, conforme se depara com a violência acachapante do cartel de Medellín é um dos pontos altos da série.
O time de coadjuvantes quase rouba a cena de Holbrook e Moura. Juan Pablo Raba é incrível como Gustavo Gaviria, primo e parceiro no crime de Escobar; Pedro Pascal e Maurice Compte (respectivamente Javier Peña e Coronel Carillo) se destacam como os agentes da lei, cada um à sua maneira; Joanna Christie também brilha como a mulher dura-na-queda de Murphy. Mas o elenco foi tão bem selecionado e os destaques são tantos que é uma missão difícil escolher quem não esteja perfeitamente adaptado ao seu personagem.
Por último, resta uma necessária menção à fotografia deslumbrante de Narcos. Muitas séries pecam por uma cenografia quase preguiçosa e dentro-dos-estúdios; passada na tropical Colômbia, a trama sofreria muito se não contasse com cenas ao ar livre e em sua terra de origem. Narcos não peca por esse erro – a série é toda passada no país sul-americano, e as lindas tomadas da floresta e da cidade são quase um personagem a mais na trama.
Narcos está em sua primeira temporada, de 10 episódios, e já foi confirmada a produção de uma nova temporada. Melhor para os telespectadores, que poderão aproveitar mais dessa excelente produção.
Fotos: divulgação.