História de uma contadora

História de uma contadora

Sempre tive vontade ajudar ao próximo. Não estou falando de ajudar um parente ou um conhecido e sim de uma pessoa que nunca vi na vida. Porém nada fazia. Até que…

Um belo dia, estava trabalhando e recebi um e-mail, daqueles enviados a todos colaboradores, informando que a empresa iria patrocinar uma ONG de contação de histórias chamada Rio Viva e Deixe Viver. E os colaboradores poderiam se inscrever para o programa de contação como voluntários.

Me inscrevi! O treinamento duraria 3 meses (todos sábados, das 9 às 13h) e, no final, se você estivesse apto, poderia contar histórias em um hospital que tivesse convênio com a ONG. A ementa do curso era longa, com várias regras e, de cara, já percebi que o negócio era sério. Mais duas amigas (Silvana e Andrea) se inscreveram. Muito bom, afinal, uma podia incentivar a outra.

No primeiro dia de aula percebemos que muitas pessoas da empresa também estavam inscritas. Pronto! Foi uma farra! Recebemos mais instruções e nos divertimos com apresentações de vários contadores, inclusive um cantor, o Hamilton Catete!

Hamilton Catete

Hamilton Catete

 

Porém, também percebemos que poderíamos lidar com crianças vítimas de violência doméstica, que sofreram algum tipo de acidente ou muito doentes, inclusive com câncer. Ui! Já comecei ficar com medo! Sempre acho que criança não deve ficar doente. Fiquei tensa. Mas tudo foi muito animado e pensei: “por que não tentar?”.

Cada sábado tinha uma novidade: dinâmicas de contação, vivências com psicólogas, apresentações de outros contadores (Francisco Gregório e Cecilia Gopfert), que dividiam conosco suas experiências, aula de canções infantis, improviso, e por aí vai. Era emoção atrás da outra! Às vezes saía da aula com os olhos inchados de tanto chorar, outros animadíssima, outros com o coração apertado prevendo o que estava por vir e me questionando se seria capaz de fazer aquilo.

Prof. Gregório em dia de treinamento!

Prof. Gregório em dia de treinamento!

 

No decorrer do curso, escolhi o hospital e o horário de contação: Hospital da Lagoa, nas manhãs de sábado. Vocês vão achar que sou louca! Escolher logo um hospital que cuida de crianças com câncer? De certa forma, vocês estão certos, porém, acompanhem meu raciocínio: eu não ia conseguir contar histórias para crianças que estivessem no hospital por conta de violência (qualquer tipo dela), que estivessem arrebentadas porque caíram da janela ou foram atropeladas. Por eliminação, fiquei com as crianças com câncer. E minhas amigas também! Pronto! Trio formado!

No final do curso, tivemos dois dias de estágio no hospital. No primeiro dia, nossa turma (umas 20 pessoas) foi dividida em dois grupos. Um grupo subiu para a ala das crianças e outro ficou ouvindo experiências das contadoras antigas. Minhas amigas e eu ficamos neste último. Estava tudo muito bem até que o grupo desceu. Genteeee, uma choradeira só! Todos nos emocionamos! Pensei, e agora? Será que vou conseguir? Logo, eu, uma manteiga derretida! Ai, ai…

Passei a semana toda pensando nisto e tensa! No sábado, coloquei meu jaleco, um arquinho engraçadinho e fui. Era inverno e para mim estavam 40 graus! Entrei no quarto de um menininho de 2 anos, me abaixei, mostrei os livros que tinha comigo e pedi que ele escolhesse um para eu ler. Pensei na hora: “é agora ou nunca! Vamos ver se rola…“. Ele escolheu um livro de adivinhações (não me lembro o nome). Comecei a interagir com ele e, pronto! Desencantei!

Livros para contação!!!

Livros para contação!!!

 

Fiquei radiante! Porque consegui! Porque fiz uma criança feliz! Porque a mãe estava feliz! Tive a certeza que conseguiria.

Entendi o que acontece com os atores, quando falam que “incorporam” um personagem. Eu era outra pessoa quando estava de jaleco e apetrechos funnies. Não enxergava nada a minha frente: não atentava para o sofrimento dos familiares, não enxergava sondas, curativos, mutilações, etc. Só via os olhos brilhantes das crianças e suas carinhas de espanto, felicidade, medo e alegria ouvindo as histórias ou as musiquinhas que cantava!

Montada no look da contação!

Montada no look da contação!

 

Vocês querem saber de uma coisa? Entrei neste projeto pensando em ajudar. Saí com a certeza de que não somos nós que ajudamos. Somos nós que somos ajudados! E vocês tem alguma experiência semelhante? Compartilha comigo! Estou doida para ouvir!





About the author

Zaida Campbell Albuquerque
Zaida Campbell Albuquerque

Oi! Eu sou a Zaida Campbell Albuquerque, carioca e apaixonada por fotografia. Sou contadora, mas nunca trabalhei na área. Porém, adoro contar histórias! Meu negócio é administrar a bagunça! Aqui será o espaço em que dividirei com vocês o que gosto e o que não gosto!

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