Será que ele é cego?
Junho, 2011. Entrevistei por telefone o ator Paulo Azevedo, em cartaz com a peça Hell na época. Ele contracenava com a atriz Bárbara Paz. Ao final da entrevista, ele me convidou para assistir ao espetáculo antes de publicar a matéria. Não fui. Publiquei antes, foi o meu erro.
Ao ler o lead (parágrafo inicial) da matéria que fiz, meu amigo Renato Damião, que trabalhava comigo no site Te Contei, perguntou por que eu tinha falado do olhar do ator na primeira frase sem ter assistido à peça. Eu respondi: “Ah, vi uma foto dele e achei o olhar marcante, outras pessoas devem ter achado também”.
O tempo passou e eu chamei meu amigo para ir à peça comigo. Já na primeira aparição de Paulo em cena, gelei. Ele estava de óculos escuros. Eu e Renato trocamos olhares do tipo “pqp” ele não vai mostrar os olhos?
Um minuto, vinte minutos, uma hora se passou e nada do cara tirar os óculos. Eu comecei a passar mal, deu dor de barriga, coceira. Fora as risadas que eu e Renato soltávamos em pleno teatro. Detalhe: a peça era um drama pesado, nada engraçado. Ríamos de nervoso, claro.
Na minha cabeça, a preocupação: “Nossa, o ator deve ter achado a minha matéria um deboche. Ele nem mostra os olhos e eu falei do olhar dele em cima do palco”.
Faltando 10 minutos para acabar, uuuuuffffaaaa, ele tirou os óculos. Nem sei descrever a sensação que senti naquele momento. Eu e Renato nos abraçamos para comemorar. E rimos, rimos, rimos.
Imagina se ele passasse a peça INTEIRINHA de óculos escuros e eu com aquele lead imaginário…
Lição: Nunca mais deduzi nada na hora de bater uma matéria. Se eu não sei, não escrevo! E vale lembrar que isso foi no início da minha carreira, quando a gente ainda pode errar. rs